A CAMPANHA MILITAR NA RÚSSIA SOVIÉTICA (PARTE II)
O esgotamento da máquina de guerra alemã, que já não se mostrava apta a suprir as necessidades dos exércitos invasores em sua ideal plenitude como antes, somada à resistência cada vez mais feroz do inimigo e a geografia do território, tanto no que diz respeito à extensão quanto o relevo, frustrava cada vez mais o sucesso de uma campanha militar tida como rápida e vitoriosa desde o início. Antes, previa-se que a campanha soviética terminaria em duas semanas, depois em questão de cerca de um mês. No momento, era Setembro e ainda sem sucesso.
Em 5 de Setembro o Exército Vermelho conseguira barrar o exército alemão em uma pequena cidade ao sul de Smolensk, o que já era uma mudança em um quadro antes considerado decisivo. Hitler e seus generais gradualmente foram caindo em desacordo conforme progredia o conflito. A OKW (Alto Comando do Exército) insistiu para que as forças alemãs fossem concentradas no setor central em uma ofensiva contra Moscou, o que estimularia o líder soviético a mobilizar o total de suas forças em uma tentativa de defender a capital, propiciando uma batalha decisiva, sobre a qual a Alemanha tinha condições de emergir como a vencedora diante da aplicação triunfal do conceito da Blitzkrieg (guerra-relâmpago). Hitler, em contrapartida, queria continuar atacando no setor norte, visando ao corte do acesso soviético ao Báltico, ao passo que também prosseguiria seu avanço em direção ao sul, objetivando a ocupação das regiões agrárias e industriais da Ucrânia e da bacia do Don e tomar os campos de petróleo do Cáucaso. Com isso, o Fuhrer alemão pretendia resolver de imediato o problema do desgaste da máquina de guerra alemã. Uma acirrada discussão entre ele e seus generais terminou com o líder frustrado ordenando que o exército do centro colocasse suas forças à disposição dos demais, localizados no sul e no norte. A teimosia de Hitler lhe custaria caro.
Após a bem sucedida tomada de Kiev, o líder alemão consentiu finalmente pela tomada da capital, mas o fez somente pelas condições de continuar seus outros dois objetivos anteriores. Aparentemente ele esquecia cada vez mais de sua estratégia de concentrar os esforços em pontos estratégicos específicos e dispersava cada vez mais seus exércitos, prejudicando a eficácia da campanha.
Em 2 de Outubro de 1941, com um atraso de quase dois meses, o marechal von Bock desencadeou finalmente, com suas forças reduzidas, a ofensiva contra Moscou. De início a ofensiva fora promissora. No entanto, gradualmente a operação foi ficando mais difícil, as chuvas de outono transformaram as estradas e lamas em atoleiros, impedindo a chegada de reforços, e a escassez de combustível deixava um grande número de blindados e carros de combate imobilizados em verdadeiros pântanos. Foi preciso esperar até meados de Novembro e as primeiras nevadas para que a ofensiva fosse retomada. As unidades de tanques que deviam fazer o cerco se aproximaram finalmente, chegando a 30 km da capital soviética, enquanto as tropas avançando do oeste chegaram a 50 km do centro da cidade. Nesse momento, o inverno russo veio: o termômetro agora baixava aos 30° negativos e, em certas jornadas, 50° negativos.
As tropas alemãs não estavam preparadas para o inverno russo, em pouco tempo as perdas pelo frio superaram o número de perdas pelo combate. Após uma última tentativa frustrada de tomada da capital, na qual um conjunto de tropas alemãs se infiltrou nos subúrbios da cidade, mais uma vez o panorama persistiu desfavorável ao invasor. Hitler ignorava as sugestões de seus generais, que o pediam para que fizesse uma retirada estratégica, e, ao invés disso, cobrava de seus soldados uma resistência fanática “até o último homem”.
A 27 de Novembro, no QG do Fuhrer, o general Eduard Wagner, chefe da seção de operações, apresentou a situação que Halder resumiria em uma frase: “Estamos no fim de nossas forças, em pessoal e em material”.
LEGENDA DA FOTO: soldados alemães no inverno de 1941, durante a Operação Barbarossa.